“Devo voltar a ocupar um lugar decente na sociedade. Perdoa-me, mulher, mas eu retorno, em breve, aos teus braços redondos. Há de me queimar as córneas a forte luz do abajur, hei de passar meus dias preso às histórias que me são indiferentes, junto aos livros que só querem bem perto o pó, repelentes aos humanos em suas ideias inconcebíveis. Oh, imaginação pútrida. Sei que é um erro, mas afasto-me de teus braços até achar o lugar, minúsculo que seja, onde hei de jazer como mais um conto torto na narrativa infinita da humanidade condenada ao abismo”
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“Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
e preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guarda-chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.”