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Poemas ridículos de Jairo Silva-Naya

 

 

Queria virar mingau

sair no jornal

e afundar num extenso rio

como pedra

e lá ficar sempre

junto à corrente

como caracol,

olhando o sol,

rolando sem fim

até o mar

e de lá para o inferno

às ostras.

 

Queria tomar chá

de folha de crack

morrer de rir

com a deusa do sol e do amor

na beira do mar

tomando água gelada,

cerveja,

queria ser brotoeja

no seu calcanhar.

 

Queria matar

a dona do bar

tomar seu lugar

e te vender amor

na beira do mar

com um machado.

 

Um dia hei de ser rei

provar a ti

com sal

limão

e uma gota de cachaça

para tirar o gosto ruim do mar.

 

Tu deves ter gosto de gente

de sal, de rocha,

de flor. Por isso te amo.

 

Tu deves ter gosto de peixe

fritando na beira do mar

sob fina camada de farinha

numa enorme panela quente

cheia de óleo sujo

num farfalhar gostoso 

de onda, serpente.

 

Areia nos olhos

coço e roço

perfuro

pálpebras gastas,

o gosto seco

do sal, do calor,

da gastura da areia

de um dia interminável na praia

pensando bobagens.

 

 

 

Tudo é bobagem,

minha cara,

pois vem de longe

uma agonia

um sonzinho besta

um ideiazinha idiota,

minha cara,

que diz:

“pula, pula no mar,

deixa a onda levar

tua alma

tua vida

teu corpo

vira areia

pedra, poeira,

mas deixa a onda te levar

que é melhor,

meu bem,

a vida na terra

é ruim, cheia de dor

horror, sujeira”

 

 

 

Poemário Nacionalista Fanático (trechos expurgados)

 

 

Tremula o bronze,

escondido sob tua terra,

às passadas enormes

de um povo bravo

direcionado à luz

obstinado mesmo

a partir em guerras

até verter do céu

os raios que comprovam:

deus é nosso,

corre em auxílio

ou o duro aço

há de partir também o céu

e vazá-lo de lá

nosso escravo.

 

 

Ondas de ócio

inspiram meu primeiro ato:

te escrevo, Virgília amada.

Não há nada que contar

a velha terra está vazia,

como sempre,

os valores em imundície

jazem atrozes

baixo a uma fraca luz pálida,

mostruário horrendo

vestindo estátuas disformes,

não com o manto sagrado,

mas trapos de putas,

pano oco, translúcido,

roupa de gente morta,

paralisia cerebral.

Minha terra, amor,

é um cemitério triste,

cheio de festas e luzes,

rituais satânicos,

a inconsciência coroada,

desfila para as massas

um rei televisivo,

vão em fúria aos comícios,

perdem-se em ideias vãs,

esconde o asfalto

a verdade, a cor do chão,

o verdadeira sustento,

não querem nascer verduras

para mirarem tais raios,

indignos de suas danças às alturas.

Máculas, manchas roxas,

é o que vejo, Virgília,

a andar por minha velha terra,

foi-se o café, esgotado.

 

Nota de rodapé abandonada sobre a mesa

“Devo voltar a ocupar um lugar decente na sociedade. Perdoa-me, mulher, mas eu retorno, em breve, aos teus braços redondos. Há de me queimar as córneas a forte luz do abajur, hei de passar meus dias preso às histórias que me são indiferentes, junto aos livros que só querem bem perto o pó, repelentes aos humanos em suas ideias inconcebíveis. Oh, imaginação pútrida. Sei que é um erro, mas afasto-me de teus braços até achar o lugar, minúsculo que seja, onde hei de jazer como mais um conto torto na narrativa infinita da humanidade condenada ao abismo”

Justificatio ad tota bacteria

Pois que fique claro que o nome Jairo Silva-Naya são as iniciais USP, só que ao contrário (basta ver o símbolo da universidade com a tipografia certa que, de ponta cabeça, perceberás claramente JSN)

Jairo não me remete a nada, é só um nome que acho meio bobo, meio divertido e suficientemente normal. Silva surge com a onda do “verdadeiro nome brasileiro”, que é uma bobagem tremenda, mas servirá para os fins pseudo-nacionalistas do autor.  E Naya, lembrem-se do engenheiro Sérgio Naya, já morto, que está ligado a um caso de desabamento. Remeto ao preceito do autor que inventei: “construir e concatenar uma poesia nacional firme e forte que aponte ao céu”. Óbvio, uma piada, como todas as referências ao nacionalismo que execro e só utilizo para mostrar o quanto é ridículo.

O movimento social literário e fictício que Jairo funda, inventa um passado e liga-se a ele, por fim, é tão ridículo quanto. Busca um nacionalismo-regionalista patético, baseado na obra de Monteiro Lobato, o Sacismo, e sua vertente radical, o Nazi-Sacismo. Que, novamente, fique claro o caráter patético, tosco e crítico do movimento, pois ao nazismo associa-se um personagem folclórico negro e deficiente.

Portanto, a poesia aqui expressa é de caráter crítico, ao meu ver, e irônico. Todos os preceitos apresentados buscam sua própria destruição, a ênfase no auto-engano (como um líder nazista descobrindo que possuía antepassados ciganos) e uma reflexão própria sobre minha cidade, meu país e a intolerância, o medo.